O Farol


A paisagem de Monte Moro era mesmo um encanto, naqueles tempos mais ainda do que hoje. O mar limpíssimo e sempre atraente; a aldeia que ficava na vertente não se ouvia, era como se não existisse. Eram só elas, com a alegria daquela maravilhosa amizade, com os seus projectos de futuro. Ao longe, via-se a cidade, protegida pelas colinas, encimadas por fortalezas e muitos santuários marianos.

O Farol, ao cair da noite, lançava fachos de luz. Também ele tinha uma linguagem directa e sugestiva.

Rossetto, Rosa, Paula...Loucuras por Cristo.


Abrimos, assim, este blogue que pretende ser uma plataforma de partilha de textos, de orações, de reflexões, de imagens e de tantos outros fachos de luz....





quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Simplicidade em Paula Frassinetti

A primeira da sequência de formações sobre o carisma de Paula Frassinetti como educadora levou-nos ao aprofundamento da Simplicidade enquanto traço distintivo e marca a levar em consideração na nossa (educadores) acção pedagógica.

Gostei imenso da exposição inicial alicerçada na metáfora das dobras.
Ocorre-me a imagem de um leque que se abre e se desdobra, revelando toda a sua riqueza escondida: o seu rendilhado, o equilíbrio que resulta da combinação de espaços opacos e espaços vazios, das curvas, da dança das curvas.
Toda a nossa vida é, também, um dobrar e desdobrar, momentos em que nos fechamos, momentos em que nos revelamos, momentos de relação e momentos de solidão.

A Simplicidade passa pela capacidade de nos expormos na nossa imperfeição, dando aí, ao outro, a possibilidade de nos ir complementando. Cresce o outro, porque se dá, cresço eu porque lhe proporciono uma aproximação e, assim, crio lugares de relação.
Cada vez me apercebo mais da riqueza da imperfeição, do limite, dos buracos que trazemos bordados em nós. Que lugar teriam os outros na minha vida se eu fosse perfeita e auto-suficiente? Que lugar teria Deus?...
Entra aqui a questão da Fé: este processo de auto-aceitação e aceitação do outro é possível sem Deus… mas imagino que mais árduo e desgastante.
Partindo do olhar de Deus, tudo isto se descomplica: reconheço no outro alguém tão precioso para Deus quanto eu e, portanto, igualmente digno da minha consideração, confiança e olhar de esperança.

Se olho o outro sempre de pé atrás, com o coração cheio de cepticismo, do alto do pedestal da minha arrogância (da minha ignorância!!!), nunca vou estar apta à simplicidade. Parto da premissa errada.
Que complicado é o mundo das relações humanas e que campo de oportunidades tão rico.
A ideia-chave é esta: ninguém é completo – ser simples é assumir isso e, por isso, aceitar e dispor-se a que o outro o complete e vice-versa.
Somo todos, felizmente, seres mutilados.

Não resisto a transcrever um excerto de um texto de Daniel Faria que formula isto bem melhor do que eu: “Creio que o mais egoísta dos homens é aquele que recusa dar aos outros a sua fragilidade e as suas limitações. Quem recusa aos outros a sua pequenez, comete um dos mais infelizes gestos de prepotência. E porque aí se rejeita, aos outros não poderá dar senão o sofrimento da perda. Querendo-se sem falha, será o mais incompleto dos seres.”

A Simplicidade é, em Santa Paula, esta convicção de ser inteiro, procurando o Mais, sem ignorar os menos que carregamos connosco.
Isto é de uma grande sabedoria.
Não há pessoas brancas nem pretas: somos todos malhados.
Para mim, é um descanso enorme ser criatura e, não, o Criador! Saber que não sou sozinha. Que a vida transcende a minha capacidade de compreensão do universo.
A uns isto inquieta, revolta, perturba, angustia… a mim… descansa-me.
Como diz Santa Paula “Estamos nas mãos de Deus, estamos muitíssimo bem!”.
Parece-me que Santa Paula viveu este equilíbrio de forma muito lúcida: não dramatizava as situações nem os problemas – des-com-pli-ca-va-. Fazia das crises (pequenas ou grandes) oportunidades de crescimento (pessoal, comunitário, na fé, na confiança). E percebia que o sentido de humor é dos melhores mediadores de conflito que podemos ter.
Santa Paula levou a sua vida muito a sério e, por isso, sabia rir.
A verdade é que muitos conflitos se evitavam se cada um se levasse menos a sério, ou melhor, se não nos levássemos demasiado a sério.
Isso é viver a simplicidade. Descentrar de mim. Rir de mim própria, dos meus buracos!
Santa Paula acolhia sem pré-requisitos, não estava à espera de material pronto.
Que outra coisa deve fazer um educador?...

Catucha Poeiras

Sem comentários:

Enviar um comentário