Começamos mais um Advento,....
Numa época onde tudo se faz e se vive depressa, esta “espera” pode, na verdade, parecer até nada natural. ... Estamos de facto pouco habituados a esperar, é algo que normalmente nos custa: o tempo “parado” é vivido como tempo “perdido”, que podia aproveitar-se para fazermos outras coisas. E, nessa dificuldade, acabamos por perder realidades essenciais da vida, pois há frutos que só o tempo gratuitamente vivido e partilhado pode dar: não há amizades profundas quando os tempos de estar juntos são todos medidos, nem amadurecimento sem o tempo necessário para “pensar nas coisas”; não há “desfrutar” sem a capacidade de criar dentro de nós tempo e espaço para a beleza de cada detalhe, e mesmo a obra de arte só pode surgir depois de lhe ter sido dado tempo gratuito, até que o “parto criativo” aconteça. Este é afinal mais um dos paradoxos da existência: toda a espera de algo futuro, se for bem
vivida, é para o presente que nos remete.
E é exatamente esta dificuldade de viver na atitude presente que uma “espera ativa”
implica, que acaba tantas vezes por nos condicionar a vida.
Estamos constantemente à procura da “leitura absoluta” de tudo o que nos acontece, questionando sem parar as razões passadas e querendo garantir – às vezes até à angústia – todas as certezas futuras. E esquecemos que, no fundo, o tempo trabalha a nosso favor: só no final da vida teremos essa leitura global, e perceberemos o que cada acontecimento, positivo ou negativo, nos trouxe, como nos marcou, e a justeza e as consequências de cada uma das nossas respostas. No entretanto, o desafio é o de ir vivendo na confiança, e optando pelo caminho que em cada momento nos parece o certo, que nos dá paz e “sintonia interior” com a Presença que mesmo no Advento já intuímos. E esta “arte de viver no entretanto” é a que nos faz capaz de viver com verdadeira alegria o tempo presente. Porque, se virmos bem, o que é que verdadeiramente ainda nos falta, aqui e agora, para já sermos felizes?
Filipe Martins,
essejota